Cr 036 Flores e pedras

Se faltou um abraço em singela despedida, seguem-se os dias longos e repletos de saudades e incompletudes, de algo que sequer aconteceu entre eles.

Ao que aparenta, apenas um deles tem saudades, pois ela sequer considera o fato dele existir como ser humano. Das intenções contidas, restrições ao pensar que se impuseram em não considerarem acolhimentos, enquanto sorrisos e olhares demonstravam outras necessidades e expressavam negação contínua da convivência.

As últimas expressões fechadas, presente em ambos, não remete a nada mais, além da tensão de um sentir represado e certa repulsa mútua 

Auto-proteção é o que buscavam. Afinal, expor sentimentos quase sempre fragiliza algumas "certezas e conveniências" das quais se constituem o dia a dia, nos afazeres cotidianos e algumas propostas de vida que se conduzem aos atos diários, trazendo inseguranças se fluir o coração no pensar sobre o que se sente e agir em razão disso.

"Branca... rosada e linda! " Pensou ela. A tempos, ao receber de uma flor na imagem pela Internet, uma rápida emoção aflorou. Sem perceber, acolheu em gentileza e agradeceu em resposta.

Mas eram apenas contingências, atos que buscavam apenas retribuir gentileza. Ela sentiu-se notada, lembrada. Em momento de alegria, pelo dia levou consigo aquela sensibilidade. Em outros, no mais difíceis dos seus afazeres, do interior refletia ainda efêmera felicidade e os desafios pareciam-lhe mais fáceis.

Sem consciência de que aquela atitude dele lhe foi extremamente agradável, se a flor lhe despertou algo a mais, amortecido e que ela ainda não havia presenciado, ele nunca terá certeza sobre o que de fato ela sentiu.

Os momentos iniciais e o tumulto da insegurança vieram juntos, a ambos. Para ela apenas a alegria de ser notada, de ser lembrada por alguém, lhe deixou feliz e reverberou por um tempo.

As maiores mudanças acontecem de forma silenciosa, na profundidade das abissais do oceano interior. Abissais são pouco conhecidas.... Se entre eles hoje nada existe, sequer amizade, é por conta dos seres desconhecidos que acordaram em suas próprias abissais individuais.

Ao longo do tempo, oceanos de "pecados e virtuosidades" se reorganizam,  movimentam-se nas correntes dos pensamentos e se reacomodam. Conhecer a alguém ou conhecer de alguém, contatar uma alma pela sua frequência, como se estivessem conectados desde sempre, abrem possibilidades e inconvenientes.

Compreender e aceitar dentro de si mesmo e se relacionar a partir dessas aprendizagens, é outro escopo. Do que se quer ou se pode abrir mão, para se construir um novo aprendizado?

Nem sempre o que se quer, e o que se pode faz guarda à harmonia desejada, conquanto o caos ou a incerteza latente da vida não pressupõe esse equilíbrio.

Como duas forças antigas, se conheciam-se com os olhares, por assim dizer, nos quais o diálogo nem sempre acontecia com palavras. Expressos em gestos e sorrisos, contudo com intecionalidades diferentes, pois ela vivia uma representação e ele deixava fluir, com naturalidade e sem barreiras.

Um papel a ser construído demanda longos cuidados,  pois é fruto de planejamento e tem um objetivo, privando o ser humano de expor livremente suas emoções. E ela seguirá a desenvolver seu projeto, do qual as atitudes são calculadas para conquista do apreço e consideração de quem a cerca, e isso suplanta o confronto às suas verdades internas.

Não há certo nem errado, a partir do desejo comum de que estejam afastados. Seguirão pautados por leituras superficiais de tudo que lhes aconteceu, e compartilham da ideia de que terão uma boa vida, longe um do outro.

Que assim seja!