Cr 018 - Qualidade de Vida

Na orla do Mar Pequeno, onde estávamos, pessoas caminhavam e outras corriam; Há algum tempo eu não o encontrava e é sempre muito bom rever um amigo. Enquanto o ouvia, alguns ruídos vinham da calçada; “Plaft” e em seguida um rapaz abaixava para recolher uma latinha amassada. Mais alguns plafts ele nos dizia: “Do lixo desse povo eu ganho bom dinheiro!”.

A preservação do meio ambiente – pela reciclagem de materiais – é um bom caminho para a sociedade gerar empregos, principalmente numa região tão carente de ocupações como a nossa.

Considero a arquitetura de Iguape uma das mais bonitas do nosso Estado de São Paulo; ao passar pelo centro, o prédio ocupado pelo Paço Municipal mantém boa parte das características originais. Na parede à direita da entrada da Rua Nove de Julho, haviam bonitas fotos reveladas de uma forma curiosa; nelas há impresso o contraste de imagens e a luminosidade demonstra nuances de difícil percepção. O autor, Sidney Rolland, foi muito feliz na sua realização e merecerá sempre nossos parabéns! Ainda no hall do prédio, outra exposição de fotos nos chamava a atenção, quando lá estava.
Mostravam o Aterro Sanitário de Iguape. Elas mostravam enormes valas, com máquinas e caminhões descarregando lixo. O que de fato despertou a atenção é que o lixo, acondicionado em sacos plásticos, estava caindo do caminhão para dentro das valas...

Neste dia em que escrevo, provavelmente mais nove toneladas de lixo (com seus sacos plásticos) será enterrada no “Aterro Sanitário”, deixando soterrados “presentes” para doze gerações que virão. Permanecerá enterrado por 300 anos, tempo esse necessário para decomposição do plástico. Ambientalistas asseguram que o lixo urbano é um dos maiores problemas atuais. Um carro passou com o som alto, e “Vivemos esperando dias melhores, (..) o dia em que seremos melhores em tudo..”

Ouvimos este trecho duma canção do J.Quest, enquanto o amigo tecia comentários interessantes sobre qualidade de vida. Eu gosto de ouvir os meus amigos, tal qual Daisaku Ikeda, Líder Pacifista, incentiva: “Ouça atentamente o que os outros têm a dizer. Isso o conduzirá ao desenvolvimento e o permitirá abrir as portas da alma para abrigar a verdadeira amizade. O diálogo de coração a coração é o primeiro passo para a paz.”
A felicidade em prestar atenção a um amigo encheu meu coração de alegria, e ao mesmo tempo, o ambiente que nos cercava pulsava com suas cores, formas e... Vida!

Tudo que nos cercava levou-me a questionar sobre o real significado da expressão “Qualidade de Vida”. Viver melhor implica em cuidarmos do nosso ambiente, devido ao estreito vínculo da Vida às condições do meio ambiente. Um meio, enquanto condição, implica também na convivência entre as pessoas além do próprio ambiente externo a elas. Por outro lado, foi ouvindo um amigo que pude compreender o quanto é importante procurarmos melhorar nossa qualidade de vida, em diversos aspectos. A Administração Municipal poderia ouvir os ambientalistas sobre o trato do lixo urbano, contemplando usinagem ou tratamento e separação do lixo, entre orgânico e inorgânico, destinando-os de acordo com as normas aplicáveis.

Quanto ao destino dos resíduos sólidos, o Relatório da Cetesb de 2005 identifica a cidade de Iguape como licenciada para instalar e operar Aterro Sanitário, além de classificar como “Adequado” o destino que o município aplica ao lixo urbano; Confesso que não entendi... Como a Cetesb pode julgar adequada a destinação do lixo, se os mesmos são soterrados em sacos plásticos nas valas?
Um dos problemas crônicos em nossa cidade é o desemprego; do tratamento do lixo do nosso município poderá surgir novos empregos, colaborando para efetivamente melhorar a Qualidade de Vida de muitas pessoas. Daquelas que estarão empregadas e também das futuras gerações. Não seria ótimo para nosso município se Administração Municipal ouvisse aos amigos?

Criada por Decreto – herança triste de períodos políticos autoritários – temos a partir de 30/03/06 mais 16500 hectares de Iguape como reserva ecológica, a Reserva Ecológica Banhados de Iguape; como tal medida prescinde de consulta popular ou qualquer tipo de “conversa” com a chamada “sociedade”, o Governo Estadual assim procedeu a criação da dita Reserva.

E as pessoas que aqui existem? Para se a criar uma RDS (Reserva de Desenvolvimento Sustentável), dependemos de ampla conversa entre diversos órgãos e associações, além, é claro do trâmite pela Assembléia Legislativa. Se as RDSs constituiram-se em esperanças para as pessoas, este ato unilateral do Governo Estadual demonstra exatamente ao contrário.

Em mais uma importante área ficará inexistente a possibilidade de manejo sustentável ou qualquer tipo de uso do solo e dos seus recursos, pelas pessoas. Para ambientalistas que estejam sentados confortavelmente em seus escritórios, enquanto aguardam seus polpudos salários mensais, é lindo imaginar que 97 mil hectares fiquem preservados. E as pessoas que aqui residem? Quais são as alternativas que esses mesmos ambientalistas oferecem a elas? Para temos Qualidade de Vida precisamos também de recursos para subsistência!

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